A Cesar o que é de Cesar

12.01.2010 01:40

 


 

A Cesar o que é de Cesar

 

 

 

Por Héctor Robles.(*)

 

 

 

Segundo a bíblia, quando os fariseus e herodianos perguntaram a Jesus se era lícito pagar tributo a Cesar, certamente foi com a intenção clara de tirar palavras dele contra uma ação tributária que fazia e faz parte de qualquer tipo de civilização organizada, envolvendo assim o nome do imperador de Roma, pois qualquer escorrego em apenas uma palavra seria a base para incriminá-lo. Não esperavam que o mestre com a moeda na mão ordenasse para eles “Daí a Cesar o que de Cesar e a Deus o que é de Deus”. Desta forma o mestre revolucionário ensinava que devia haver uma diferença entre ações políticas e ações espirituais. O pagamento do imposto era e é decorrente de uma ação política e como tal devia e deve ser interpretado e executado. Naquela época o Cesar era o homem mais poderoso do planeta e comandava um império que a cada dia crescia e se fortalecia. Tomava conta do mundo invadindo e impondo com crueldade a sua vontade e a sua hegemonia sobre os “Povos Bárbaros”. A chegada do exército romano a cada nação que era invadida era um enorme derrame de sangue, mortos, mutilados, estupros, em fim, um arrebato da dignidade de todo um povo para fins econômicos e de poder. A ordem que se gritava a viva voz era “Submetam-se aos nossos desígnios e perdoaremos vossas vidas”.

Nos dias de hoje o homem mais poderoso do mundo é o presidente dos Estados Unidos, ele comanda o império mais cruel e selvagem que haja existido na face da terra, e os povos bárbaros de hoje são chamados de “Eixo do Mal” e os que defendem esses povos são chamados de “Terroristas”. Mas nem todos se submetem aos seus desígnios para assim obter o perdão da vida e esses lutam inclusive até perder a vida e outros se organizam e dentro das democracias avançam em suas lutas de classes, com o respaldo dos movimentos sociais, dos partidos progressistas e do povo, obtendo assim grandes vitórias que levam a ocupar espaços antes destinados única e exclusivamente ao serviço do capitalismo desapiedado.

A supremacia romana hoje é conhecida como capitalismo, onde notavelmente um pequeno grupo fica com o “capital” produzido pela imensa maioria dos trabalhadores. O espelho mais recente desta supremacia foi mostrado ao mundo na recente cúpula das Nações Unidas em Copenhague. Nas intervenções vários presidentes citaram, por exemplo, que “o ingresso total das 500 pessoas mais ricas do planeta é superior ao ingresso dos 500 milhões de pessoas mais pobres. Os 2 bilhões e 800 milhões de pessoas que vivem em pobreza crítica representam o 40% da população global e recebem apenas o 5% do ingresso mundial. Hoje morrem 9,2 milhões de crianças antes do quinto ano de vida e 99% destas mortes acontecem nos países mais pobres. Fora isso temos mais de 1,1 bilhão de habitantes no mundo sem acesso à água potável, 2,600 milhões sem serviço de saneamento básico, mais de 800 milhões de analfabetos e 1.2 bilhão de pessoas famintas, esse é o cenário do mundo hoje produto do capitalismo brutal”. Essas cifras têm diminuído no caso da América Latina e esses males têm sido atacados onde há governos progressistas como é o caso do Brasil onde programas como o Fome Zero do presidente Lula, que diminuiu notavelmente o número de famintos e variados programas de inclusão social dão dignidade a várias dezenas de milhões de pessoas que antes se debatiam entre a pobreza e a miséria. A economia do Brasil acompanha a economia do mundo com um crescimento extraordinário que consolidou a criação do G-20 do qual faz parte. Na Venezuela, por exemplo, em dez anos de governo do presidente Chávez, foi realizado um amplo programa de transformações sociais gerando importante declínio da pobreza e melhoria da qualidade de vida, da saúde e da educação. O analfabetismo é coisa do passado em países como Cuba, Venezuela e Bolívia.

Sabemos que a vida é uma dádiva de Deus, mas as pessoas têm que fazer sua parte e não esperar que Deus resolva para eles, por isso estes e muitos outros logros na América Latina são conseqüência da consciência e do despertar dos povos latino-americanos e cabe a eles a honra de ter esses governos e governantes que lutam sem trégua contra esses flagelos do capitalismo e da humanidade. Seguindo as palavras de Jesus quando questionado sobre o pagamento do tributo, devemos dizer que a glória dos nossos triunfos é dos povos, por isso “Ao povo o que é do povo e a Deus o que é de Deus”.

 

 

 

 

 

(*) O autor é Secretário de Relações Internacionais

     do Congresso Bolivariano dos Povos-Manaus e membro

     do Comitê Estadual do Partido Comunista do Brasil –AM.